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Saber biomédico e um versículo da Bíblia

https://youtu.be/1P6pgQciYhQ

Sou Dr Everton Diniz, biomédico associado a ABBM, mestre em ciências biológicas com doutorado em engenharia biomédica.

Como estamos na proximidade do Natal, considerado uma festa religiosa para cerca de 87% da população brasileira pelo censo 2010 do IBGE, escolhi falar neste primeiro podcast sobre a visão de um biomédico em cima de uma parábola da bíblia apresentada em Mateus 9:14-17.

De acordo com Matheus, no versículo 17, Jesus diz: “nem se põe vinho novo em odres velhos, porque se alguém fizer isso, os odres se rompem, o vinho se derrama, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam”.

Talvez para um judaico cristão habitante no Brasil, a compreensão desta parábola esteja muito longe de sua realidade. Então, como um biomédico, quero dividir com vocês a interpretação que faço sobre esta passagem.

Vamos começar com o significado de odre. Odres são recipientes feitos de madeira ou couro, que poderiam armazenar água, vinho e outras bebidas em grandes volumes, como em barris, ou em pequenos volumes, como em cantis.

Na época de Cristo, os povos tanto das regiões desérticas da África, quanto das regiões áridas do Oriente Médio, se valiam de odres de couro para transportas água ou vinho para a travessia de um deserto. O couro é a pele do animal preservada da putrefação, que é a reação bioquímica de decomposição das proteínas por um processo denominado curtimento.

A pele curtida se torna flexível e macia, pronta para ser utilizada na confecção de calçados, bolsas, carteiras, roupas e, no caso da nossa conversa de hoje, na confecção de odres!
Lembrem que a pele de todos os mamíferos é constituída de epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é a camada externa, onde podemos tocar. Essa camada é rica em queratina, que confere resistência mecânica ao tecido, e melanina, que funciona como um filtro solar natural dificultando eventuais mutações genéticas por exposição à radiação UV. Logo abaixo dela temos a derme com glândulas sebáceas e sudoríparas, folículos pilosos, vasos sanguíneos, nervos, colágeno e elastina. Abaixo da derme temos a hipoderme rica em adipócitos, que são células responsável pela produção e armazenamento de grandes volumes lipídicos.

Como os odres são cantis de couro, conforme o tempo passa, suas células vão se desidratando e perdendo conteúdo lipídico. Consequentemente, o couro inicialmente viçoso e macio, acaba se tornando rígido e opaco.

Neste momento, vocês podem estar se perguntando: onde isso me leva a entender, como biomédico, a esta parábola bíblica? 

Pois bem, nesta parábola Jesus recomenda não se por vinhos novos em odres velhos, por se perder tanto o vinho quanto o odre. Agora cientes da histologia do couro e de que as bactérias fermentam a uva para produzirem o etanol a partir do vinho, e que neste processo liberam CO2, fica fácil entender o que foi dito neste versículo. Pensem comigo: se coloco um vinho novo, ainda rico em frutose, em um odre velho rico em bactérias, inevitavelmente estas bactérias irão metabolizar a frutose remanescente da uva, liberando CO2 dentro do odre rígido e vedado. O gás produzido vai exercer uma pressão grande na parede do odre, que por ser velho e inflexível, acabará estourando causando grande perda a seu dono, que perde tanto o vinho que derrama no chão, quanto o odre que poderia ser usado para transportar água por exemplo.

Percebam que na época em que Jesus disse isto, as pessoas não sabiam da existência dos microrganismos. Tão pouco imaginavam como se daria o processo de fermentação alcóolica que produz o vinho ou a cerveja. Mesmo assim, a recomendação de Jesus não deixou de ser salutar a quem a ouviu.

Por fim, deste versículo em específico, eu entendo que, eventualmente, ocorre com as pessoas mudanças bruscas em suas formas de ver a vida. Seja pela perda de um ente querido, meditação, buscas por iluminação filosófica ou espiritual. É fato que isto acontece na vida de todos.
Um bom exemplo para isto se dá quando um cativo, realmente regenerado, ganha sua liberdade após longos anos na prisão. 

O ex-cativo volta para onde habitava a e lá reencontra os antigos parceiros no crime. Estes por sua vez, aguardavam a saída do preso contando com este reforço em suas novas operações.
Mas imaginem que o cativo, agora renovado, diz não ver mais propósito na vida que com os comparsas compartilhava. Confusos, os antigos parceiros, assim como odres velhos, não reconhecem o homem liberto que aqui o faço análogo ao vinho novo. 

Na presença deste vinho novo, os odres velhos se ofendem e se intimidam com aquele que hoje é capaz de ver aquilo que os demais ainda não conseguem. Ainda céticos desta mudança, os comparsas tentam, sem sucesso, tragar o novo homem a sua vida pregressa. 

Não vendo hesito nestas investidas, por vezes simplesmente se afastam pela falta de afinidade, por outras, como em muito retratado em jornais, executam o ex-cativo recém liberto que recusou retomar sua vida antiga. 

Este foi apenas um exemplo genérico que produzi na esperança de me fazer compreender por vocês ouvintes (leitores). No entanto podemos debater este tema por e-mail, telegram ou em comentários no YouTube.

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No mais, agradeço atenção de vocês, e desejo a todos um feliz natal!

 

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